12.10.11

Dias

Um daqueles dias em que a tristeza te pega de jeito pelo cangote e te joga na cama sem mais nem porque e não te dá nem meia chance de espernear, de contestar a injustiça de tudo aquilo. Um daqueles dias que começa já de noite, as horas se arrastando numa espiral rumo à madrugada, tudo sem sentido, sem objetivo, sem nada. 

Sei lá. Essa falta de perspectiva é o que me mata. Esse não saber pra onde se vai e de onde se está indo. Essa... insegurança na vida. Parece que esqueci de crescer, sei lá. É de festa em festa, de bar em bar, e o dinheiro que vai se acabando, e a diversão que se torna rotina e começa a azedar, e a sensação de que se está se permitindo o lazer por pura obrigação pra desafogar de todo o trabalho, estudo e sei mais lá o quê. 

E é aí que eu percebo que trabalho feito uma condenada seis dias por semana noventa horas por mês e estudo feito uma louca quatro dias na semana sessenta horas por mês e tudo isso pra que? Pra ser alguém na vida e ter dinheiro pra realizar meus sonhos? O dia em que eu conseguir juntar dinheiro pra realizar meus sonhos estarei velha demais pra sonhar, quiçá pra aproveitar tudo o que juntei. Esse dinheiro vai virar remédio, internação hospitalar, asilo pra me confortar na velhice que se aproxima com passos lépidos e a boca escancarada de fera voraz. E aí eu vou deixando de viver pouquinho em pouquinho, só pra poder um dia morrer em paz. 

É isso: a gente vai vivendo um dia de cada vez só pra poder morrer com dignidade. Pois eu me recuso a morrer com essa dignidade plastificada, forjada, planejada. Eu quero viver. Eu quero a vida correndo nas minhas veias com a velocidade do tiro que destroça as entranhas do traficante morto na sarjeta. Eu quero a vertigem, a emoção, quero a porra do pathos todo. Quero curtir a trocentos milhões por hora a onda de viver.

E quando baixa a onda, minha bad trip consiste em me perguntar, bêbada, numa mesa de bar: pra que é que serviu essa merda toda mesmo, se no final continuo no mesmo ponto onde comecei?

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