29.7.14

Parasita

Passei várias noites em claro, sem conseguir dormir direito com a dor que me consumia o ventre. Meu coração disparava, o ar me faltava e a cabeça, ah, essa não parava quieta; eu não conseguia ordenar meus pensamentos, e sem a menor provocação lá estava você na minha memória de novo. Eu chorava, porque era tanto amor que parecia que eu ia transbordar; várias vezes quis vomitar de tanta agonia, botar para fora todas as lágrimas e sentimentos ruins e esse gosto amargo, de bile, que a rejeição deixava na minha boca. Eu não conseguia mais comer. Eu não conseguia mais dormir. Perdi peso, perdi forças, perdi a vontade de viver, enfim desisti de continuar alimentando esse mal que cada vez mais crescia dentro de mim e procurei ajuda profissional. O psicólogo, depois de um breve exame, me encaminhou para outro profissional. "Acho que é o caso de medicar..." "É tão grave assim, doutor? Preciso de acompanhamento psiquiátrico?" "Não. O que você tem não é dor de amor; é verme."

19.7.14

Nota de Falecimento

Acho que o amor morreu
Sufocado e sepultado nos escombros de mim
E não deu nem tempo de dizer adeus...

Essa gota d'água que rolou pelo meu rosto?
Isso não é uma lágrima;
É que choveu dentro de mim
E de vez em quando eu transbordo.

18.7.14

Veneta

Quero perder para você meus lugares preferidos
E, perdidos, fazer amor como quem marca território
Como num sonho derrisório em uma noite insone

Quero segurar sua mão com segurança
Te tornar a bonança da minha tempestade
Que me invade em passos largos de nuvens de chumbo

Quero cantar minhas dores com palavras de outros
E em meus ouvidos moucos receber o eco dos meus lamentos
Emudecer o sofrimento até não mais sentir

Quero gritar para as paredes meus segredos
Sem sentir nenhum medo de retaliações ou sentenças
Na transparência das lágrimas que não quero chorar

Quero calar até que o momento seja oportuno
E levar para o túmulo o tumulto da minha alma
Para, com toda a calma, me permitir me afogar

12.7.14

Reflexões

Do espelho, uma menina me observa
Sorriso de estrelas cadentes
E olhos rasos de chuva

Seria este sorriso cor de vício
Ou o grito surdo que rasga o vazio?
Das máscaras amarrotadas a escorrer pelas paredes,
   de tantas cores, formas e nomes,
   qual será o verdadeiro rosto?

O passado enevoado
Descortina um futuro difuso
Fumaça colorida e espelhos, nada mais
De tudo o que me restou,
   os retalhos, os farelos, os escombros,
   onde se esconde a verdade em meio às mentiras?

No espelho, uma menina,
Despida de sua inocência,
Desaparece nos vapores do banho.



(Escrito em 24/09/09)

11.7.14

Pilatos

Só desta vez, sou inocente
Desta vez, minhas mãos estão limpas
Não sou a causa dos seus males
Não plantei suas discórdias
Não dancei a sua música

Olhe nos meus olhos e procure a culpa
Mas não olhe para mim
Não me macule com suas dúvidas

Tire seus olhos de mim e me esqueça
Me deixe dormir em paz.



(Escrito em 16/09/09)