31.12.11

Thanks for all the fish

E mais um ano veio e mais um ano foi e eu aqui, continuo sentada na frente deste mesmo computador (ok, mentira, o computador variou algumas vezes no decorrer do ano), escrevendo textos com os mesmos teores, tendo sempre os mesmos problemas com amores e desamores, solitária, acompanhada, o que for: se chorei ou se sofri, o importante é que no blog escrevi.

E vocês aí do outro lado, lendo, (raramente) comentando, apoiando, dando risada e vindo me perguntar depois o quanto do que escrevo aqui é ipsis litteris e o quanto é ficção descarada. Sempre. Desde o começo. Se esse blog existe, é pra vocês e por vocês, porque, afinal, simplesmente por escrever, eu poderia guardar essas porcarias todas no meu HD e ser feliz pra sempre.

Já que eu adiantei a retrospectiva em alguns dias (não fez a menor diferença, já que nada mudou de lá pra cá), resolvi que o último post do último dia do ano seria meu agradecimento a todas as pessoas lindas que fizeram parte da minha vida esse ano.

Teve aqueles que chegaram logo no comecinho do ano pra bagunçar minha vida, e nem todos duraram no grude até o final - Alan, Andrézinho, Binho e Peu são alguns exemplos, mas, entre os que duraram, inclua aí Alinezinha, Glen, Dan...

Teve aqueles que chegaram na metade do ano e fizeram toda a diferença - nesse bolo, sintam-se incluídos todos os lindos da faculdade, incluindo aqueles que eu conhecia antes mas só fui pegar intimidade de seis meses pra cá: Mario, Reden, Rugal, Fernando, Pacheco, Vanessa, Rafão, Beco, Larissa... - e também os que caíram de paraquedas, tipo Hell.

Teve aqueles que apareceram no finalzinho e geraram noites e mais noites de resenha (e às vezes de stress) - Dani, Spike, Cau, Lucas (EU AINDA PREFIRO THE CLASH)...

Teve aqueles que já estavam na minha vida, mas se aproximaram mais esse ano e eu não vejo mais minha vida sem de jeito nenhum - Oi Greg! Oi Gabz! Oi Loo! Oi Minmins! Oi Paulinha!

E teve aqueles que sempre estiveram na minha vida, prosseguiram nela e que, espero, continuem pra sempre: Dude, Pri, Anine, Cris, Blao, Ed...

Esse post é mais uma forma de agradecer a todos por todas as risadas, todas as alegrias, todas as tristezas-que-geraram-produtividade, todas as resenhas, todas as agonias compartilhadas e, claro, a preferência!

E a todos aqueles por quem me apaixonei (e que me magoaram) ou que se apaixonaram por mim (e quebraram a cara): Sem vocês, esse blog estaria vazio, vazio. Obrigada por tudo, até pelo mal.

E que venha 2012!






(PS: não citei todos os nomes que fizeram parte da minha vida esse ano porque senão não seria um texto, seria uma lista telefônica. Mas se você já me aturou bêbada, já recebeu sms aleatória minha, se eu já disse que te amava ou que você era família pra mim, se você já me viu chorar... Acredite. Esse post também é pra você. Obrigada. Por tudo.)

25.12.11

Retrospectiva 2011

Em 2011, aprendi que:

- Morar sozinha é um desafio com o qual sei lidar muito bem na maior parte das vezes;
- Trocar de chefes assusta, mas pode ser extremamente recompensador;
- Eu não sei lidar com dois empregos e uma faculdade ao mesmo tempo;
- Amores vêm e vão, [s]são ases de verão[/s] mas amigos ficam para sempre;
- Uma grande paixonite pode virar uma grande amizade;
- Grandes amizades podem ir ralo abaixo se um dos dois desenvolver uma paixonite;
- Pular sem olhar direito onde vai cair invariavelmente dá merda;
- Dignidade não aumenta score;
- Felicidade não dá follower;
- Tristeza não tem fim, felicidade sim.
- A sorte sempre, sempre, sempre favorece os vagabundos;
- Na dúvida, sempre teremos Berlim.

Em 2011, ganhei:

- Amigos
- Inimigos
- Gatos
- Reputação
- Uma irmã que também é filha
- Uma família que é mais que família
- Mais dinheiro que achei que ia ganhar em toda a minha vida
- Muita dor de cabeça
- Free drinks
- Um nome en la noche


Em 2011, perdi:

- Amigos
- Inimigos
- Tempo
- Tempo
- Tempo
- Tempo

Em 2012, eu quero:

- Tudo o que tive em 2011. Só que mais, muito mais, bem mais, exorbitantemente mais. Mais risadas, mais alegria, mais dinheiro, mais amigos, mais sucesso, mais VIDA.

Até porque, nunca se sabe quando vai acabar ou quando você vai gastar seu último continue...

22.12.11

Ciclos

Passei a vida inteira pendurada na borda desse penhasco, me perguntando o que aconteceria comigo quando um dia eu acabasse caindo lá embaixo. Ia dia, vinha dia, e eu todo dia ali, contemplando as pedras lá embaixo. Será que cair dói? Será que, na metade do caminho, eu consigo aprender a voar? Será que um dia eu aprendo a descer por onde houver apoio? Aquele abismo representava todas as minhas dúvidas e esperanças, meus sonhos de criança e meus medos irracionais. Eu sempre tive pavor do penhasco e suas pedrinhas que se soltavam e iam se estatelar lá embaixo, no fundo do sem fundo que era a queda. Eu sempre me senti atraída pelo penhasco, como se fosse o vortex que encerraria todos os meus ciclos.

Enfim, um dia eu cresci - como todo mundo acaba por crescer algum dia - e acabei por me distanciar do abismo. Por muitos anos não vi aquela beirada que tanto me enchia de temor e assombro quando eu era menor. De vez em quando, voltava às origens e me perdia por horas a admirar o que eu achava que seria meu fim, mas sem tanta curiosidade. Sem pressa. Sabia que o dia ia chegar. Quanto mais o tempo passava, com mais tranquilidade eu observava a altura e calculava a queda. Achei que o dia nunca chegaria, tão pacata se tornou minha relação com aquele lugar.

Só que a vida gosta de nos surpreender. Quando eu menos esperava, o chão começou a, lentamente, receder sob meus pés. Quando eu menos esperava, a beira do abismo estava ali, olhando pra mim com aquela boca enorme, escancarada, parecendo querer me engolir por inteiro. Quando eu menos esperava... ah, mas é óbvio. As piores quedas sempre são quando a gente menos espera. E lá estava eu, pairando nos ares, e nada de aprender a voar, nada de dor, nada de apoio pras mãos. Só eu e o ar, cada vez mais rápido, e o chão, cada vez mais perto, e essa dormência, esse não sentir, cada vez me enfraquecendo mais. Nada mais formiga, nada mais bate, nada mais circula: eu, o ar, o chão, o vento, o chão, o chão, o chão...

Perdi o que tinha pra perder. Agora já foi. Do fundo do buraco onde me encontro, reencontro os velhos patamares da subida. Hora de reerguer, reestruturar, reconquistar. Mesmo que um dia perca tudo de novo.

Da borda do penhasco, vejo o mundo lá embaixo... E tudo começa outra vez.

9.12.11

Sobre putas e amadoras

- Eu gosto mesmo é de mulher - ela disse, me olhando nos olhos. - Tenho um pouco de nojinho de pau, minha relação com os homens é puramente profissional.

- Engraçado. Eu já tinha ouvido falar que a maioria das garotas de programa e atrizes pornô tinham essa vibe, mas achava que era lenda. E porque escolheu essa... digamos, área de especialização?

- Preciso ganhar a vida né, meu. Trabalhando, todo mundo se fode de um jeito ou de outro. Pelo menos tô fodendo alguém também. Fora que sempre rola de encontrar uma cliente legal que nem vocês, aí fica mais prazeroso trabalhar. Me empresta o isqueiro?

- Tá aqui. Vê se não acaba com todo o meu fogo ainda aqui, hein.

Ela riu. Tinha o riso gostoso de ouvir, Morena. Era daquelas pessoas bem expansivas, brincando com todo mundo, extremamente alto astral. Depois de dez minutos de conversa, eu já tinha esquecido em que tipo de lugar e situação me encontrava. Aliás, depois de dez minutos de conversa, e todo o vinho bebido antes, e a vodka, e o cheiro intoxicantemente doce do ambiente, esqueci até que era minha primeira vez num puteiro. A outra menina também era divertida. Minha amiga, mais experiente, tinha tratado de toda a negociação. Eu estava ali só pra curtir o momento.

Depois de alguns detalhes cuidadosamente acertados – preço, quantidade de tempo, local, etc – entramos no táxi rumo ao motel, sob os olhares medianamente curiosos e abertamente lascivos dos outros clientes do lugar. Eu mesma ainda estava meio em choque. Quando minha amiga sugeriu irmos a um brega, uma ideia que pareceu consideravelmente mais atraente à medida em que as garrafas de vinho vazias se acumulavam no canto da mesa, imaginei que a gente ia só pra ver qual era a do ambiente. Não passou pela minha cabeça sair de lá acompanhada de alguma menina.

Chegamos a um motel que eu só conhecia de passar na frente da porta, e pensei com carinho na ironia das coisas – logo do outro lado da rua, o prédio da primeira menina com quem dormi. Paguei o táxi e subimos para o quarto. Ela já foi tirando os sapatos e subindo o vestido impossivelmente curto, deixando à mostra uma calcinha minúscula de renda vermelha. Minha amiga e a outra menina seguiram o exemplo, e eu não me fiz de rogada – chutei de qualquer jeito minhas sandálias rasteiras prum canto qualquer do quarto e me sentei na cama.

Júlia e Morena já estavam aos amassos, as bocas coladas como se suas vidas dependessem disso. Outro tabu, outra lenda quebrada – a de que puta não beija na boca. Dei de ombros e fui conversar com a outra. Dentro de pouco tempo, nossas roupas já estavam no chão e nossas pernas entrelaçadas. Ela olhou meio divertida pra mim e perguntou se eu já tinha feito sexo com mulher antes. Para ela, eu era a cara da heterossexualidade. À guisa de demonstração, subi nela e mostrei todos os meus conhecimentos, enquanto ela ria e dizia que eu era sensível demais. Minha sensibilidade escorria por entre nossas pernas, ecoava nas paredes do quarto, marcava-se de leve nas costas morenas e tatuadas da mulher. Os seios dela tinham gosto doce. Achei que combinava com seu nome adotado – Morango.

Quando terminamos, meu coração aos saltos dentro do peito, percebemos que Júlia e Morena tinham sumido no quarto contíguo. Eu estava exausta, mas ainda tínhamos algumas horas pela frente. Tomei uma cerveja para me recuperar do meu orgasmo barulhento e partimos para o round dois.

- Bonita tatuagem, a sua. O que são essas flores?

- É uma trepadeira. Fiz na prisão.

Minha curiosidade foi atiçada, mas estava entretida demais segurando o riso para perguntar porque ela esteve na prisão. De mais a mais, achei indelicado, por mais que, àquela altura, ela já soubesse que eu era escritora e que minha curiosidade era estritamente profissional. Ela percebeu meu desconcerto.

- Que foi, amiga?

- Achei curioso uma prostituta ter uma trepadeira tatuada nas costas, só isso.

Ela me jogou um travesseiro e riu.

- Pra quem é virgem de puta, você tá muito engraçadinha. E eu aqui achando que você era toda inocente...

- Você também achou que eu era hetero, gata. Aparências enganam.

Ela puxou um cigarro da minha carteira, acendeu e deu um gole na cerveja, à essa altura já morna. Olhou pra mim de cima a baixo, eu que me encontrava estranhamente confortável com minha nudez na frente de uma total desconhecida. Acedeu com um ar de aprovação.

- Vamos comigo pra praia amanhã?

- Como é?

- Um cliente me chamou pra fazer um programa de dupla na praia, mas minha amiga não vai poder ir. Não vai rolar de ir sozinha. Vem comigo!

- Linda, numa boa... Você mesma jogou na minha cara ainda agora que eu sou virgem de puta. Agora tá me chamando pra fazer programa também? Só se o cara quiser que a foda seja registrada em um conto erótico e for exibicionista. Ainda não tô na vibe de curtir uma onda dessas não.

- Que pena, ia ser legal ter você lá.

Nos enrolamos nas toalhas e fomos no quarto ao lado ver como nossas amigas estavam. Sentadas na cama, conversavam alegremente. Morango gritou, “ei, minha gente, vocês não fizeram amorzinho gostoso ainda não?”

As duas riram e nos chamaram para sentar na cama. Morena puxou o celular e me chamou mais pra perto.

- Olha aqui - começou a me mostrar fotos - a gente tirou foto com a Thammy Gretchen. Não é legal?

Olhei para o visor do Galaxy e lá estavam as duas, com a filha da rainha do rebolado no meio. Dei risada.

- Vocês foram tirar foto com ela porque ela apoia a profissão ou porque ela é do babado?

- Os dois, amiga. Tô te falando. Pau é trabalho, a gente curte mesmo é chupar buceta. Olha, tem foto com a Gretchen também, e essa é minha irmã, e...



Passava das quatro e meia da manhã quando o táxi finalmente encostou na frente do meu prédio. O taxista, amigo das meninas, ia levar Morango para casa, depois de me deixar. Júlia e Morena ficaram pelo motel mesmo, o programa delas era um pouco mais longo. Me despedi da menina com um selinho.

- Foi um prazer te conhecer, viu, linda?

- Você também. Foi legal. Pena que você não curte praia, podia ir junto só pela curtição.

- Talvez da próxima vez que você estiver em Salvador - disse, enquanto batia a porta do carro.

Ela abriu a janela e me chamou de volta.

- Escuta, você é mesmo escritora ou falou isso só pra tentar impressionar?

- Sou mesmo escritora. Te juro que meu interesse hoje a princípio era puramente profissional.

- O meu, a princípio, também, mas as coisas mudam, né. Então, posso te pedir uma coisa?

- Pode. Se der, eu faço.

- Escreve sobre a gente.

4.12.11

Decadência

O mofo crescendo na parede nua
O coração que deixou de pulsar
O pássaro morto
Cinza as penas, contra o cinzento do muro
A barata que se contorce, as patas ao ar
Carne morta em decomposição
Seu olhar vidrado fitando o teto
Me atravessando num adeus silencioso

Por todos os lados, corrupção
A sombra da capela do cemitério
Carne fria, sobrevida
Gosto do que fica no limiar

Quando você morreu
Anestesiada que estava pela constância da morte
Levei duas semanas inteiras pra conseguir chorar.