29.11.10

Carochinha

Você pegou na minha mão e elogiou minhas cores. Olhou nos meus olhos e me tratou como mulher. Elogiou minhas formas e gestos e manias, e não desviou o olhar quando eu te disse o que queria. É proibido? Sim. Mas eu nunca me importei. E, pelo visto, nem você. E aquilo que começou como uma brincadeira adolescente foi tomando forma de coisa séria, e eu tenho medo de onde esse trem há de fazer sua estação final.

28.11.10

Este post se autodestruirá assim que eu ficar sóbria

Eu disse que te amava. Várias vezes, mesmo sem você perceber. E você me respondeu à altura, mais de uma vez. E isso é uma maldição, porque eu nunca mais vou conseguir tirar essa cicatriz do meu peito.


Pelo menos, já parou de sangrar.

E agora, o que eu faço com isso? Simples. Eu espero a dor parar, o hematoma desinchar, os pontos caírem. E aí, depois que os analgésicos e anestésicos não forem mais necessários, eu posso curtir esse sentimento da melhor maneira possível: me aproximando de novo, com cuidado para não me queimar.

Porque é assim que eu lido com meus amigos, com todas as pessoas que amo. Ninguém se livra de mim tão fácil. E eu tenho certeza de que eu deixei uma marca em você também.

E de agora em diante a fábrica fechou. O epitáfio ainda é válido. Ele morreu. Só sobraram os frutos.

Porque se eu abrir mais uma cicatriz pra deixar mais alguém entrar, é bem capaz de eu não sobreviver.

25.11.10

Palavras

Todas as palavras que você me deu eu guardei. Todas elas, sem dó, mesmo as que mais doeram. E elas doeram, por mais que eu mantivesse firmemente um sorriso nos lábios e os olhos nos seus. Eu sorri, te olhei nos olhos e guardei tudo. Não por me importar com o que você tinha a dizer - e, preciso admitir, ainda que a contragosto: me importo -, mas porque eu sabia que um dia eu poderia usá-las a meu favor. Mesmo que leve anos.

24.11.10

Criatura

Eu só queria ter algo pra cuidar, pra dar atenção, para ocupar o vazio dos meus dias. E inventei você, do jeitinho que eu queria, e te dediquei horas e mais horas do meu dia, vastidões de espaço no meu pensamento, páginas e páginas de poemas e canções. Vivi com você. Falei de você para as pessoas que eu amava, de tal forma e com tal intensidade que elas te conhecem tão bem quanto eu, que te criei. E você foi minha muleta para acreditar que o que eu estava fazendo com a minha vida valia a pena, que as decisões que tomei eram bem embasadas e razoáveis. E agora que me convenci de que não foi tudo inútil, não preciso mais de você.

Mas quem disse que eu consigo desapegar desse amor que inventei?

22.11.10

Máscara

É aquele vazio que bate e faz a gente só querer uma boa xícara de chá quente e uma cama confortável pra se enfiar debaixo das cobertas e esquecer do mundo. É aquele frio de doer os ossos, o frio que vem de dentro e faz a temperatura de todo o resto desregular. É se ver sem chão, sem amparo, sem ter para onde correr para fugir dessa dor que parece que vai te consumir por inteiro, pura e simplesmente porque o inimigo está dentro de você. É enfiar as garras nas feridas abertas e sentir sua alma sangrando, é se rasgar por inteira e deixar que o tempo elimine os vestígios de você. É não conseguir chorar de tanto cansaço. É aprender a fingir tão bem que começa a enganar a si mesma. É se apaixonar pela dor que sente e alimentá-la para transformá-la em musa. É sorrir com os lábios e com os olhos, mas dificilmente com o coração. É falar demais para evitar pensar. É não ser para conseguir estar.

Isso tudo, é isso que eu sou. Mas só quando ninguém está olhando.

20.11.10

Momento diarinho: NOT MYSELF TONIGHT (or LAST night, whatever)

Nada de tequila, nada de me sentir tão bem assim, nada de beijar todas as meninas ou meninos. Ainda assim, chamem um médico, e rápido: acho que eu enlouqueci de vez. Definitivamente, não fui eu mesma à noite passada, mesmo que o resto da noite não tenha absolutamente nada a ver com a música que entitula o post e geralmente serve de paralelo com minha vida.

Uma das coisas que me incomodava nessa relação é que ela cada vez mais parecia fundamentada naquilo que a gente sempre fez de melhor juntos, e eu não me refiro às piadas muito muito ruins. Não consigo me lembrar de uma única situação, desde o fatídico dia do terraço há trocentos anos, em que estivéssemos juntos no mesmo ambiente e não estivéssemos JUNTOS.

E essa noite eu consegui controlar meu instinto de me jogar. Não só porque resolvi ser uma pessoa decente pra variar um pouco, embora isso tenha ajudado, mas porque estava mais do que disposta a encarar isso não como sair com um ex-talvez-futuro-whatever-peguete, mas com um amigo de quem gosto bastante e os amigos dele. E, sabe? Isso serviu para me fazer chegar à conclusão de que passei dessa fase tão física, porque foi a noite mais divertida (vou evitar a palavra "prazerosa" nesse contexto porque, bom, isso não seria verdade) que passei em companhia dele since, I dunno, EVER.

Mas que dormir de conchinha só como amigos foi difícil pra caralho pra mim, talvez pela primeira vez na vida, AH ISSO FOI.

18.11.10

Preparativos

Faltam 13h. Saio da minha sala gelada rumo ao forno que é a noite de Salvador. Acendo um cigarro e desabafo meus problemas sentimentais com a nova colega de trabalho que já parece best-friend-forever-since-ever a caminho da padaria. Volto pro trabalho. Café, café, café. A aluna chega. Uma hora de aula que parece se estender ao infinito.

Faltam 12h. Sento na frente do computador e digito meia dúzia de coisas depressivas no twitter. O humor não está dos mais condizentes com a condição de "pessoa-que-vai-viajar-amanhã". Mais café. Está na hora de ir embora, e eu nem estou conseguindo mais rir das brincadeiras dos co-workers. Entro no primeiro ônibus que me deixe a 5 minutos de distância dali.

Faltam 11h. Ligo o notebook, digo oi para os amigos e tomo banho. Brinco com o gato. Faço e desfaço as malas para me certificar de que não esqueci nada. Ansiedade. Ansiedade.

Faltam 10h. Já não sei mais o que fazer pra distrair minha cabeça. Penso em tudo o que pode dar errado e faço planos B, C, D e E. Música, música é bom pra relaxar. Canto junto. Danço. Minha coluna vai me matar, mas foda-se.

Faltam 9h. Eu devia ir dormir. Estava podre de cansada quando saí do trabalho. Cadê o sono? A janelinha do MSN pisca e me faz criar planos A, muitos planos A. Telefone. Meia hora no telefone. Side-quests. Minhas costas estão a ponto de pedir arrego.

Faltam 8h. O cigarro acabou. Preciso dormir, preciso acordar em cerca de 5h. Troco o CD, coloco música ambiente pra tocar. Relaxo. O notebook desliga sozinho, é um sinal. Ligo de volta. Coloco o mesmo CD pra tocar. Arrumo a cama, faço cafuné no gato, fecho a necessaire, coloco o mp4 pra carregar. Peço a um amigo  pra ligar pro táxi pra mim pra agendar pra amanhã, 6h, eu sair daqui. Mais cafuné no gato. Ainda não consigo relaxar.

Faltam 7h. Fuck you, insônia.

17.11.10

Medo de quê?

Eu não conseguia olhar nos seus olhos porque tinha medo de que os meus me traíssem. Medo, muito medo, de que eles gritassem com toda sua força o nome daquele sentimento que eu insistia em esconder. Medo de que a intensidade do meu olhar te assustasse e te afastasse pra sempre de mim. E agora meu medo é de que seus olhos estivessem procurando os meus o tempo todo e eu, esquiva e assustada, não te tenha deixado se aproximar. Medo de ter te afastado pra sempre.

No fim das contas, sempre peco mais pelo meu medo de estar só.

16.11.10

Desdor

Des  tro  ços
Dis   tor  ção
Dis   tor  ci     da

           que estou
            sou
             ser ei

as palavras se contorcem
         retorcem
            torcem
                sem dor
                des   tro   ça   dor

11.11.10

Ansiedade

Olho no relógio. Falta pouco agora. Respiro fundo, procuro uma fruta pra comer. Abro a mala - está tudo lá. Está tudo lá e eu aqui, pronta pra sair à menor provocação. Ao menor suspiro. É preciso dizer aos meus nervos, "acalmem-se, seus idiotas", para conseguir sequer respirar direito. A porta entreaberta não é pela brisa, é pela praticidade. E ela me tenta. De uma forma irresistível.

Desisto da fruta. Jogo a mochila nos ombros desnudos, penduro a jaqueta de viagem na dobra do braço e saio correndo, pra só voltar na próxima estação. Isso se voltar.

3.11.10

Gatonirico

Abriu os olhos e percebeu que estava no trabalho. Na sua cadeira, seu substituto oficial. Deu de ombros e foi pra sala onde costumava ocupar suas horas ociosas. Deu de cara com gatos, muito gatos, miando e pedindo carinho e sendo adoráveis. Um conseguiu escalar seu ombro, e lá ficou, pendurado, ronronando baixo perto a seu ouvido, amassando a blusa com as garrinhas. Colocou o gato no chão. O gato se tremeu todo, e tremendo, sentou num canto. Ameaçou molhar o chão, mas conseguiu segurar. Piscou os olhos, muito redondos muito enormes muito azuis, e olhou com carinha de triste. Ela ficou com pena por meio segundo. Depois, acordou.