5.11.20

Return to Nowhere

It was not supposed to happen this fast
No second comings and never looking back
I'm not ready and neither are you
Just talk about constellations and gods old and new
Get lost in a sweaty maze, minds a single haze
When dawn breaks, I'll be gone for good

But we couldn't just let go, could we?
We fell in love with the reflections in the mirror
Through the looking glass we wasted our newfound youth
Knowing full well the way back home led to nothing but hard truth
Now Narcissus is drowned, the king is dethroned
And only the past awaits in the desolation that is home

We willfully chose to ignore the ten of swords
But the tower always hung in the background
And now it's time to pick up the shards
and build myself up from the razed ground

This is not the first --
nor will it be the last --
time I have to reinvent myself

This is not the first --
but it will be the last --
time I let you pierce my mortal flesh

Mahogany eyes keep haunting my slumber
But the light of day hits my bed just wrong
The spell is broken, the sigil unspoken
Filled your travel pouch with blessings and longing
Now I'm claiming them back
You're not worthy of the promises heavy around your neck

It's not easy to get back on my feet
And turn my back to this burning pile left behind
Soon the embers will die and the ashes will fly
Like the memory of a dream that was not quite so bright
When this plague dies down, I'll have survived
I refuse to let your hand cast the last strike

And like the gods of old I might succumb for now
But return to die again a thousand times over
Winter always ends and I can't wait to see
The colors of the spring that will bloom inside of me

This is not the first --
nor will it be the last --
time I have to relearn myself

This is not the first --
but it will be the last --
time I burn myself at stake for you

9.1.20

É noite no Rio de Janeiro.

Me dei conta, andando pelas vielas do condomínio, de que escrevi inúmeras cartas de amor, algumas de rancor, para Salvador, cidade que me acolheu e aturou por uma parcela tão grande da minha vida. Contemplei, ainda que nunca tenha tirado a ideia do papel, escrever algumas linhas para a noite lagartense, conforme observada da varanda à qual jamais retornarei. Talvez não tenha sido uma carta de amor, mas sei que escrevi alguns textos ácidos e severamente críticos sobre o panorama geopolítico igarassuense.

Mas nunca escrevi para o Rio.

Talvez o Rio de Janeiro não me motivasse a escrever, em outros tempos, porque não era um local que me gerasse qualquer tipo de incômodo ou sensação nova - pelo contrário, era, talvez, meu estado-base, não no sentido estado-unidade-federativa, mas estado de espírito, mesmo. Eu não sabia escrever sobre o estar carioca porque, intrinsecamente, eu ainda me via como sendo carioca.

Com o tempo, isso mudou.

Mudou porque, com o passar dos anos, acho que me esqueci. Não do Rio, em si, mas de quem eu sou quando estou no Rio. As memórias tão vívidas, lembranças límpidas que eu considerava gravadas no meu corpo e no meu espírito de maneira tão nítida quanto as cicatrizes que a vida se encarregou de me proporcionar, foram se esmaecendo com o tempo. O Rio de Janeiro se tornou meu lugar de memórias afetivas, lembranças nostálgicas, romantização.

A primeira vez que pisei no Rio, depois de 13 anos longe, eu chorei ao ver o primeiro táxi amarelo, antes mesmo de descer do ônibus.

E agora estou aqui, sem vontade nem pressa de ir embora, disposta a meter as caras e correr atrás e ficar. A encarar a crise e a recessão e a falta de emprego e o desalento e tanta, tanta coisa que pode dar errado, simplesmente para voltar para perto das minhas raízes, da família, dos laços indeléveis construídos há tantos anos e enfim fortalecidos, dos novos laços tão estreitos e tão sólidos construídos ao longo destes dois últimos anos.

É noite no Rio de Janeiro, e em pouco menos de um mês já sinto meu instinto voltando a me guiar por estas ruas da zona norte que conheço tão bem, por mais estranho que seja caminhar com meus próprios pés por estas calçadas às quais minha mente retornava quando fechava meus olhos e deixava o pensamento voar. Meus ouvidos, desacostumados, não estranharam tanto o ruído dos tiros - que referencial terrível! - e meu coração, tão plácido, não quis pular da boca ao ver a arma na mão do assaltante.

Aos poucos, o Rio deixa de ser esse lugar imaginário das minhas memórias afetivas e passa a tomar forma, concreta e dolorosa, e torna-se cada vez mais fácil para mim aceitar que, da mesma maneira que eu não sou a mesma Dianna que deixou esta cidade há 16 anos, talvez esta cidade já não seja a mesma que eu deixei para trás em busca de novas paragens.

E talvez finalmente estejamos prontas para o reencontro, por demorado que tenha sido, e para voltarmos a caminhar juntas.