1.4.19

Auto-biografia II

Durmo pouco,
bebo café demais
e talvez devesse parar de fumar.

Falo palavrão demais,
mas insisto em calar as verdades
que me corroem o esôfago,
ácidas que são
em seu estado bruto.

Não sei sentar de pernas cruzadas que nem mocinha,
e, na verdade, sempre detestei
as coisas de que
(dizem)
eu devia gostar.

Não sei ser moderada nas opiniões,
nos vícios ou nas paixões.

Choro fácil por tudo
(menos pelo que importa)
e demonstro afeto
com garras e safanões.

Por vezes, acho
que vivo minha vida do avesso,
e que do outro lado do espelho
talvez seja tudo mais simples.

Às vezes, sou nada além
da síntese de todas as expectativas
empilhadas e mal-ajambradas
sobre meus ombros tão jovens
e tão exaustos.

Às vezes me convenço de que tenho jeito;
outras,
do fundo do poço de desesperança,
escavado com as setas que me perfuram,
sustentado pelas pedras que me atordoam,
me resigno a ser apenas eu:

errante na vida, errada sempre.