31.12.10

Retrospectiva 2010


O ano começou no mar, molhando minhas calças jeans e meus tênis xadrezes. Tenho a impressão de que o vi se aproximando de levinho, mas pode ter sido só porque eu estava podre de bêbada. E foi assim que eu entrei 2010: As calças novas e limpas encharcadas e salgadas, a lentilha de Gabi que não passava de uma mera lembrança, apoiando nos ombros do Cris pra conseguir andar, de tão bêbada que estava. Um ano que se iniciou desse jeito não pode dar certo. Ou será que pode?

Pois deu certo. E, mesmo bêbada e com as calças em petição de miséria, liguei pros meus pais, com quem não falava direito há anos. E fiz as pazes com tantas outras pessoas queridas que mal consigo contar. E essa foi a tônica que definiu meu ano: muitos encontros e reencontros felizes.

Conheci muita gente boa, tanto pessoalmente quanto virtualmente. Me aproximei mais de pessoas que já eram próximas, me diverti, ri horrores, chorei pouco, compartilhei tudo e, no fim das contas, o saldo é mais do que positivo.

Foram 365 dias de boas histórias, de piadas, de lendas. Madrugadas em claro estudando. Madrugadas em claro preparando aula. Mas, mais importantes do que essas: madrugadas em claro com os amigos, seja dançando - e perdendo a dignidade -, seja bebendo - e perdendo a dignidade -, seja conversando e acalentando o coração. Nenhuma noite perdida, afinal.

Resolução pro ano novo? Ser feliz. Ou melhor, continuar sendo. E continuar correndo atrás dos meus sonhos. Porque eu sei bem onde quero chegar, mas o caminho eu vou decidindo na doida, e olha, o que eu puder fazer para que seja o mais divertido possível, PODE TER CERTEZA QUE EU VOU FAZER.

Quero terminar esse texto com agradecimentos e mensagens especiais. Porque, se meu 2010 foi um sucesso, a culpa é integralmente de vocês! Lá vai:

Pai e Analu - vocês são os melhores pais do mundo, mesmo. Pena que só fui perceber isso esse ano.
Cris - pra sempre, tá?
Ana - cuida bem dos meus três amores. E obrigada pela paciência.
Pri - vê se para de sumir, sua linda!
Nams e Anine - vamos dar aloca muitas vezes na faculdade esse ano, né, que mais um pouco e eu não vou estar mais com vocês.
Taz - brigamos, fizemos as pazes, nos afastamos de novo, e agora, o "pra sempre" também vale pra você, viu?
Dude - e as reséééééénhas!
Ty - ou melhor, Dean!
K - só uma palavra: CERVEJA!
Chico - que é um porre, mas a gente ama ele mesmo assim.
Fe - qualquer coisa com você é divertida, até escrever poesia concreta. Vamos brincar de nunca mais perder contato de novo?
Dea S - porque os ciggy-breaks nunca mais foram os mesmos.
Sue - porque as meninas super-poderosas precisavam de uma Lindinha!
Ham - mas só se parar com os comentários que me deixam TERRIVELMENTE CONSTRANGIDA.
Nique - e seus conselhos super cabíveis, sejam no âmbito estético, sejam no âmbito sentimental.
Kee - quando você aprender a parar de deixar pra me chamar pra fazer as coisas em cima da hora, você vai virar o amigo perfeito, haha. Vou sentir saudades de almoçar com você em Bio. Obrigada por ter mudado minha vida esse ano, mesmo que você nem se dê conta disso <3
Mine - que até de mau humor no twitter é linda.
Minmins - INDIE FOFA! INDIE FOFA! <3
Sly - o melhor irmão que uma pessoa da esbórnia podia ter.
Dea D - queria MUITO ter te encontrado em SP. Muito MESMO.
SN, Blao, Paulinha, Shay, Ed, Ted, Dan, Arthur, Pet, Limão - Pra vocês, minha mensagem de feliz ano novo vai ficar pra abril, tá? <3
Kazu - CADÊ ESSE LÍNGUA DE PRATA???
Milk - amor de mãe, né?
9, Bru, This, Thiz, Thin, Cercal, Lipe, Caioc, Caion, Vic, Pi, Piet, Fran, Gi, Guils, Di, Luc, Lety, Mandy, Ohki, Carolls, Rafa, Drei, Becca, Thad  - vocês foram as estréias mais aclamadas do meu ano. Obrigada por me aceitarem no grupo, obrigada por fazerem parte da minha vida (e sim, o momento emo de fim de ano continua. Deve durar até amanhã, mais ou menos, ou até eu ficar bêbada). Se eu for entrar em detalhes individualmente, vou ficar até ano que vem (rs) escrevendo, e pretendo que esse post vá ao ar antes da meia-noite. Mas cada um de vocês tem um lugarzinho especial aqui, ó <3 E, se eu esqueci de alguém, MIL PERDÕES. É muita gente pra pouco tempo, haha <3

E, a uma pessoa especial (você sabe que é você): cuida bem do que eu te dei, tá? Se for pra me devolver algum dia, faça o seu melhor pra me devolver inteiro. Eu também estarei cuidando do que você me deu com todo o carinho (L)

E aí, 2010? Já deu, né? Faz sua dancinha apoteótica aí enquanto dá tempo, e deixa logo 2011 e todas essas expectativas boas chegarem!

30.12.10

Wanderlust

Esta cidade ficou pequena demais para mim. Este estado ficou pequeno demais para mim. Este país. O próprio mundo, talvez. Abri tanto minha mente que a própria existência é pouco para abarcar tudo o que me define. Quero viajar, quero conhecer outros lugares, outros povos, outras verdades. Não quis pegar um avião simplesmente porque quero, enfim, experimentar na prática toda essa liberdade que eu sei que existe dentro de mim. Hoje, saio daqui Dianna; amanhã, nem sei. Amanhã, será outro lugar diferente, serei outra eu que nunca mais será a mesma.

Quero experimentar ao menos uma vez antes de morrer a sensação do vento selvagem ricocheteando meus cabelos. Voar, com minhas próprias asas, todo o trajeto que até hoje só pude testar pela experiência dos outros. Ir além.

Sinto falta de caminhar sozinha à noite e descobrir novos caminhos. Sinto falta de sentir a chuva fria na minha pele quente enquanto vago a esmo. Sinto falta de cheiros novos. Sinto falta de lugares que nunca conheci. Meu lugar, definitivamente, não é aqui. Estou decidida. Está na hora de partir.

Enfiei os farrapos que restavam da minha vida em uma mochila surrada e joguei nas costas. Não aguento mais ficar neste lugar. Não aguento mais ser eu o tempo inteiro. Não aguento mais manter minhas máscaras de segurança que restaram, depois de tanto tempo num canto só. Mochila nas costas, calcei minhas botas e subi na moto, quiçá para nunca mais voltar.

29.12.10

Plato

Estar só tem suas vantagens. Consigo pensar. Consigo, inclusive, não pensar e não me sentir na obrigação de fazê-lo. Paz. Enfim, paz, depois de tantos dias de correria e da adorável, porém por vezes sufocante, presença constante dos amigos. 

Me deito novamente no chão, um cigarro aceso em um dos cantos da boca e os cabelos soltos esparramados como chamas a lamber o piso azulejado. O chão frio sob minhas costas tem um quê de revigorante. A música alta ecoa pelas paredes nuas. É tudo muito branco, de onde estou deitada. Só comigo mesma, danço com o vazio, na esperança de que isso acalme a criança mimada e teimosa que cresce dentro de meu peito. Danço com minha sombra refletida na parede, e finjo que não preciso de mais ninguém. Estou feliz, estou sinceramente feliz. Mas falta algo.

Falta você.

27.12.10

Ruptura

Nos seus braços, me senti voando. Na cama, me senti poderosa, linda, senhora de mim e da situação. Em casa, depois, tomei a decisão: nunca mais.

E aí você não me liga, não me procura, e eu digo para mim mesma, sem problemas. Tenho outros, outros tantos como você, que de mim só querem aquilo que em geral não é tão difícil de conseguir. Não preciso de suas palavras ousadas, não preciso de seu toque apressado, não preciso de seu desejo unilateral que me culpa por suas falhas. Não preciso, e nem quero, de suas taras obcenas e hábitos nocivos. Passo, pela primeira vez desde o começo dessa história, dois dias inteiros sem pensar em você com carinho, sem fantasiar com você na minha cama.

Um café na minha frente e a companhia das pessoas que amo e que me amam era tudo o que eu precisava para fechar meu final de semana da forma mais perfeita possível. Eu não precisava de mais. Eu não queria mais, e ainda assim, o telefone tocou. Reconheci pelo toque, só podia ser você. Atendi sem muita pressa, sabendo que, o que quer que você quisesse, não era hoje que ia conseguir. Esperei sem muita confiança um feliz natal, um como vai, um que saudade, mas em troca só recebi o nada. A frieza transparecia no convite a uma noite quente. Tá aonde? Vamos pra um motel? Não, querido. Estou com meus amigos. Hoje foi um dia difícil e é com eles que quero estar. Tá bom, então. Depois a gente se fala. Tchau. Desligo o telefone com um meio sorriso no canto dos lábios. Era por esse cara que eu estava disposta a condenar minha alma ao inferno do julgamento alheio. Foi por esse cara que eu me prontifiquei a arriscar tantas e tantas coisas. Esse cara, que não vale um décimo do que eu valho.

Guardei o telefone bem fundo na bolsa e dei aquela sacudida na cabeça para me livrar de quaisquer idéias erradas que eu pudesse ter. Tomei o último gole do meu café, paguei a conta e fui para a casa do outro, disposta a passar a noite inteira fazendo o que eu não quis fazer com você: ser feliz.

26.12.10

A donzela e o menestrel

Abro os olhos e meu primeiro pensamento é seu. Parece que até acordar eu vivia num mundo de brumas onde meu destino era correr em círculos, atrás de algo que nunca ia me satisfazer. Abri os olhos, e corri para o celular, para o computador, para qualquer meio de comunicação que me pudesse trazer notícias suas. Em vão, claro, porque você não tem meu número e eu sei que você não vai chegar perto de um computador tão cedo.

Você tem outras prioridades, e eu, teoricamente, também. Mas me deixa curtir essa idéia só mais um pouquinho. Me deixa lembrar como é estar apaixonada e ser correspondida. Me deixa achar que essa história toda vai dar certo em algum momento, que a distância não é um empecilho e que eu não devia me preocupar com o fato de você ter outra pessoa com quem se preocupar. Me deixa gostar de você contra a opinião de todos os nossos amigos em comum. Me deixa, enfim, viver nesse mundo de fantasia e fantasias que criamos e onde vivemos juntos, naquilo que você chama de casamento e eu de pecado, confiando um ao outro nossas frustrações e erros do passado e nossas expectativas e esperanças pro futuro. Me deixa ser sua, porque é assim, nessa brincadeira de faz-de-conta, que eu cada vez mais me perco pra você e me torno cada vez mais incapaz de funcionar se não for sob suas vistas.

Eu abri os olhos e você não estava em lugar nenhum. Quase me desesperei, por meio segundo. Coloquei nossa música e me lembrei que você está onde sempre deveria ter estado: dentro de mim.

22.12.10

Bast

Abriu os olhos e percebeu que o sol já havia escondido sua face há mais tempo do que esperava. Hora de acordar, enfim. Espreguiçou-se lentamente, esticando cada uma de suas extremidades com muita cautela. Lavou-se com esmero, como todos os dias, e foi atrás de sua primeira refeição.

Adorava o prazer da caça. Divertia-se com a tocaia, sentia seu sangue queimando como lava enquanto a adrenalina corria por seu organismo. A vítima, incauta, mal percebeu o vulto cinzento à espreita até que já era tarde demais. Era tão fácil, tão natural, que não pôde resistir à tentação de ser cruel. Brincou com a pobre criatura, fazendo-a ser arremessada de um lado a outro até, enfim, dar-lhe o golpe de misericórdia, lacerando sua garganta.

Esticou-se mais uma vez, como que para espantar a preguiça que lhe abatia após uma lauta refeição, e pôs-se a explorar o ambiente em que estava. Não se lembrava muito bem como fora parar por ali, mas também não importava muito: seu lar era qualquer lugar sob as estrelas, seu abrigo qualquer um que o protegesse da chuva. Curioso, vagou pelos arredores até encontrar água que pudesse beber. Bebeu até fartar-se, e seguiu sua jornada pelos caminhos que lhe parecessem mais interessantes.

Finalmente, o céu começou a clarear novamente. Hora de descansar. Encontrou uma árvore, subiu até o galho mais alto que pôde alcançar, fez sua higiene mais uma vez para tirar os fiapos de mato seco da pelagem cinza espessa, enroscou-se em si mesmo e dormiu, ronronando de puro prazer por mais uma noite bem aproveitada.

20.12.10

Olhos

Sentou-se ao meu lado e fingiu não me ver. Difícil, numa sala daquele tamanho, mas ainda assim ignorou meu sorriso tímido, automático à sua entrada. Decidi que nem era comigo e me concentrei em observar fervorosamente as marcas de cupim no carpete velho, as mãos cruzadas sobre as pernas cruzadas. Linguagem corporal toda errada, gritando pro mundo que o desconforto era pelo novo membro do grupo.

Sua mão buscou a minha na hora menos apropriada. Um leve aperto. Para os incautos, um gesto de amizade. Para nós, tantos desejos velados que nem caberia nas palavras. Evitei seus olhos pelo resto do dia, sem coragem de admitir que algo neles mexia comigo. Acendi seu cigarro, sentei a seu lado, conversei desconversando, os olhos fugídios. Não era hora nem lugar para aquele flerte absurdo e despropositado.

Caminhou comigo até meu ponto de ônibus e conversou sobre coisas frias e mundanas. Vamos trabalhar juntos, preciso de alguém pra dividir um freela, como vai a faculdade? Os olhos cobertos por filmes negros, todos os quatro, os rostos firmemente voltados para o horizonte. As mãos que tornam a se encontrar na surdina, os sussurros em meio ao caos urbano: estou com saudades. Eu também. Na esquina, separam-se as mãos, as vozes, e restam só os desejos unidos. Os corpos, que pena, ficam para uma próxima ocasião. Ainda estou com saudades. Ele também.

15.12.10

Até que

Um leve desconforto em meio às tardes de ócio nerd. Isso era tudo que o que aconteceu entre nós, naquela noite lamentável há tantos anos, significava em nossas vidas hoje em dia. Até que um dia...

Sempre tem um "até que" nessas histórias, não é? Um deslize é perfeitamente inofensivo, até que. Um passeio com os amigos pelo shopping é algo perfeitamente normal para se fazer numa sexta à noite, até que. Comprar esmaltes só te deixa confusa na hora de escolher a cor, até que.

Até que uma proposta indecente é lançada no ar. Até que um beijo acontece espontaneamente no meio da fila. Até que pessoas bêbadas resolvem dar vazão a vontades que talvez nem soubessem que existiam.

Até que tudo isso se repete e gera uma expectativa.

E agora eu fico aqui, nesse medo de que as coisas fujam do controle. De que essa amizade se corrompa. De que nada seja mais como antes. E esse último medo é simbolizado pelo beijo de despedida, na porta de casa. Da minha. Pelo convite para jantar. Na sua casa. Sem o álcool como desculpa, como muleta, como catapulta. Seguimos como amigos, mas, na calada da noite, as coisas mudam.

Até que nossos mundos comecem a ruir.

13.12.10

Promessa quebrada

Era o fruto proibido
Era o nunca
Era o irresistível
Era.

O sangue intoxicado
As bocas que se buscam
As mãos
O fogo que consumiu-se
E as estribeiras perdidas
E as roupas espalhadas
A respiração entrecortada

Você entre minhas luxúrias
Eu escorro

Me sussurra
Eu desmancho

À luz da manhã
Me invade
Acordo, enfim.

10.12.10

Sex and the City

Depois do décimo toque do despertador, insistia em continuar dormindo. A cama estava confortável e o sonho era muito mais interessante que a realidade que me esperava. Eu estava num porão enfrentando um monstro que tinha devorado o cachorro que eu tinha acabado de adotar, enquanto tentava desesperadamente achar o carinha por quem eu ando de fogo no rabo. O décimo primeiro toque do despertador me convenceu de que nada podia ser pior do que correr o risco de encontrar o tal carinha coberta de restos mortais do monstro, então resolvi levantar da cama e ir adiantar a porra do artigo que eu precisava entregar naquele dia.

Do banheiro, ouvi o celular tocando e saí correndo, ainda limpando restos de pasta de dentes dos cantos da boca na barra do pijama. Pelo toque, sabia que era das pessoas que estavam na lista dos "a hora que ligar eu atendo". Olhei o visor - era ele. Resisti ao instinto de comentar que tinha sonhado com ele, e tentei acordar mais um pouco. "Hm.", atendi. "Tá pronta pra ir pra facul? Passo aí pra te buscar." "Nem. Acabei de acordar. Paper pra terminar. Só saio de casa depois das onze." Eu não estava nem aí se estava falando estilo telegrama, tava morrendo de sono. "Puxa, então a gente não vai se ver hoje?" "Não sei. Quando eu estiver na facul e livre a gente se vê." "OK, te ligo."

Desliguei o telefone e fui trabalhar. Pouco mais de duas horas depois, me vi na faculdade e já plenamente livre de minhas obrigações. Peguei o celular. Dividida entre ligar ou não ligar, resolvi mandar uma mensagem. "Tô na facul e tô livre." Ele me liga logo na sequência. Saio do prédio, vou pro estacionamento, no caminho me bato com a outra. Ou eu que sou a outra, já me perdi nessa história e, sinceramente, foda-se, tô nem aí. Cheguei no estacionamento, entrei no carro dele, lugar mais calmo. Conversa vai, conversa vem, beijo vai, beijo vem, as mãos também vão e vem. Zíperes se abrem. Me dedico a me fazer de besta, de inocente, de tímida, porque não quero ser julgada. E é aí que me cai a ficha de que nenhum de nós dois tem moral pra julgar o outro, e me jogo. De corpo, alma, mãos e boca.

Acho meio sexy um homem gemendo por minha causa. Especialmente se eu estiver fazendo algo no qual eu particularmente não me acho muito talentosa. Resolvi caprichar, e, na empolgação, nem prestei muita atenção nos detalhes externos. Ele gemia, gemia forte, e puxava meus cabelos. Eu já não sabia mais de onde tirar forças pra continuar, mal conseguia respirar, mas foi só ele anunciar, entre gemidos, que estava prestes a, e eu tirei energia sabe deus de onde pra ir até o final. Nunca tinha feito um homem gozar só com a boca.

Enquanto fechava o zíper da bermuda, ele olhou pra mim ainda trêmulo e fez graça, fingindo levantar uma plaquinha e dizendo que olha, nota 10. Dei risada. Ele pediu minha avaliação da performance dele, e eu achei o cúmulo. Me recusei a entrar no mérito da questão da aparência e tamanho do pau dele, minha mãe me ensinou a ser uma dama. Mesmo logo depois de chupar o pau de alguém num carro em pleno meio-dia na frente da faculdade. Depois de um pouco pressionada, falei o que achava. Ele ficou inseguro. Disse que confiava no talento dele, e que, caso ele não correspondesse, era bom que ele fosse bom de língua. Me chamou de safada, e eu só consegui rir. Fui de mocinha tímida a imprestável - à imprestavel que sou e nunca neguei ser - em pouco mais de meia hora. Voltamos para o local pré-escapada e eu não sabia se ria ou ficava vermelha.

Fugi e ele me ligou. Não precisava ter fugido, te ligo mais tarde, beijo. Não ligou. Foda-se. Tá na hora de começar a tirar isso do sistema. Sento no PC, abro o bloco de notas. Começo a digitar.

"Depois do décimo toque do despertador..."

8.12.10

Metáfora

Todo mundo tem um livro que é o livro da sua vida. Aquele livro que a gente lê em algum momento em que realmente precisa ler, e que vai carregar na nossa bagagem literária/pessoal pra sempre. Pra alguns, pode ser um livro de auto-ajuda. Para outros, muito mais interessantes, pode ser um livro de ficção ou poesia.

Ele entrou numa livraria procurando o livro de fantasia que representava a vida dele. Ele já o havia lido, muitos anos antes, quando ainda era um adolescente. Como com todo livro muito bom que a gente lê quando é adolescente, ele havia chegado àquele momento da vida adulta em que precisava reler pra realmente compreender a mensagem, e constatou que não tinha mais o livro. O perdera em tantas indas e vindas da vida.

Então, ele entrou na livraria e perguntou pelo livro. E descobriu que, para o seu azar, o livro estava esgotado. O vendedor afirmou que não era possível achar o livro em canto nenhum naquela cidade, nem na distribuidora, mas que existia um sebo muito bom em outro estado que talvez, só talvez, possuísse o livro em seu acervo. Caso não tivesse, o sebo poderia se prontificar a encontrar e enviar por um pequeno valor adicional. Mas isso poderia levar meses.

O rapaz deu aquele suspiro profundo e decidiu que talvez valesse a pena tentar. Mas, enquanto isso, pegou um outro livro qualquer na prateleira. A capa era bonitinha, a sinopse era interessante. Lembrou do amigo que o tinha lido e falou muito bem. Era um desses livros fantásticos novos, que às vezes tendem a não ter nem pé nem cabeça, mas, só de não se enquadrar na modinha absurda de histórias românticas com vampiros que parecia ter chegado pra ficar, já parecia ser bom o bastante. Levou o livro até o caixa, pagou e carregou consigo pra casa.

Enquanto terminava de ler o livro, uma história meio corrida e de final deprimente, se perguntou por que cargas d'água não tinha encomendado o livro que realmente precisava ler. Parecia ser tarde demais, e o papel com o contato do sebo tinha ficado em cima do balcão da livraria. Arremessou o livro fraco no cesto de roupa suja, apagou a luz e foi dormir. Amanhã daria um jeito. 

6.12.10

Interlude

Hey you, you can stay here if you want
You can even mess up my life
I know we don't got much to talk about
Just play with my hair and I'll be happy

[...]

Hey you
Did you know you make me wet just by looking at your smile?
I know I don't even have a bed to fuck in
But let me make a phone call, I'll have one in a while

I don't even care if you don't like me
And I don't even care if you don't need me
Can't we just spend tonight together
So I got something to think about tomorrow?

(The Murmurs - Squeeze Box Days)

5.12.10

Amizade x Amor

Amizade:

Toda vez que eu ouço uma música que sei que você gosta muito, dou risada e penso em você. Toda vez que como alguma coisa que você goste, penso em fazer alguma piada do tipo "comi tal coisa hoje, morra de inveja". Toda vez que você se apaixona, fico doida pra conhecer a menina e ser amiga dela também, porque se ela te faz feliz eu já gosto dela de graça. Às vezes brigo com você, mas é porque gosto demais de você. Porque somos parecidos demais. Mas mesmo assim, sempre fazemos as pazes. Porque eu sempre vou estar ao seu lado.

Amor:

Toda vez que eu ouço uma música que sei que você gosta muito, ou que sei que te faz pensar em mim, ou que tocou em algum momento em que eu estivesse com você... Sorrio, triste ou docemente, a depender de como esteja nossa relação, e penso em você. Toda vez que como algo que você goste, ou que tenhamos comido juntos, chego a sentir o cheiro da sua pele perto de mim. A comida muda de gosto, sei lá, fica mais especial porque é nossa. Toda vez que você me diz que está apaixonado, fico com um medo absurdo de que eu vá te perder de vez. NãO quero conhecê-la; sei que não vou conseguir gostar dela de todo, mesmo que ela seja a pessoa mais legal do mundo e que esteja te fazendo feliz. Vou torcer pela sua felicidade, mas não sei se vou conseguir ficar perto de você. E eu nunca quero brigar com você, porque tenho medo. Amar me dá medo. E aí eu guardo tudo pra mim até que um dia explodo, e você se assusta e se afasta. E eu tento consertar as coisas, às vezes em vão, e fica esse buraco enorme dentro do peito. Pode ser que um dia eu não esteja mais ao seu lado, mas você sempre vai ter um espaço reservado só pra você aqui dentro de mim.

3.12.10

Mãos

Suas mãos no meu rosto. Minhas mãos no seu pescoço. Você em mim: não é paz, é fúria. As garras dóceis cortam o silêncio, e me ouço pedindo debilmente que pare. Por dentro, grito para que não, continue, não me deixa assim. Isso não é apego - é desejo, é jogo. E nesse jogo eu só fico à espera do game over.

2.12.10

Linha ocupada

Aquele telefonema interminável. Aquela risada sem graça. As mãos que se tocam e acariciam e se separam e deixam a promessa no ar. O telefone toca e eu não atendo, porque sei que não devo. Me chama e eu não quero, porque sei que não devo, mas o diabinho da consciência me faz querer atiçar e eu atiço. Telefone. Sei que não devo, mas cedo, porque, diabos, só se vive uma vez.

Mãos que não se soltam. A música me agrada, a conversa flui. Me controlo para não ficar aproximadamente da cor dos cabelos que convenientemente cobrem meu rosto. Sua mão na minha - alerta vermelho. Minha mão na sua - realização de fantasias. Sua mão enfim alcança meu rosto, sua boca alcança a minha, e eu me vejo obrigada a estabelecer limites que não existiam antes pra tentar preservar um mínimo de controle nessa história que já não tem mais rédea que chegue.

Minha mão no seu rosto. Minhas unhas na sua pele, seus dentes no meu pescoço. Foda-se o controle, estou pronta.

Um telefonema. Bato a porta e saio na noite quente em busca de algo que me ajude a firmar as pernas, soprando ao longe um beijo.