30.3.14

Void

I just wish I could remember you better
I just wish that brief moment of intimacy hadn't been so fleeting
The soft touch of your lips imprinted itself in me
As something soothing in the eye of the maelstrom
You were something to hold on to amidst the chaos
The turbulence around and inside me
And I recklessly let myself drift away
Into other arms and other mouths and other worlds
Into myself and the crowd
And forget everything but the remembrance of something sweet.

19.3.14

Demônio

E lá se ia o ônibus sacolejante, meio vazio já no final da hora do rush. Eu ia bem pimpona na janelinha, torcendo para que a brisa quase fresca da noite soteropolitana fizesse algum milagre na minha dor de cabeça. Não fez. Continuei sentindo como se meu cérebro estivesse tentando se expandir para além dos débeis limites da minha caixa craniana. Tentei remédio, cochilo, cachaça, enfim; de tudo e mais um pouco, mas nada de nada adiantou. Eu começava a cogitar trepanação como medida paliativa quando o demônio adentrou o coletivo.

Demônio, de acordo com a mitologia cristã, é um anjo que se rebelou contra deus e passou a lutar junto às forças do inferno na eterna batalha entre o bem e o mal. De acordo comigo mesma, é uma criança. Uma criança de colo. Uma criança de colo bem específica, que entrou no ônibus com o pai e, tão logo se aboletaram no banco vazio imediatamente atrás do meu, começou a chorar como se toda a felicidade do mundo tivesse sido sugada para dentro da cabeça do pai, onde insistia em ficar batendo, talvez tentando libertá-la. Olhei pra trás com o olhar mais carregado de ódio que minha cabeça explodindo me permitiu, e a criança sorriu para mim.

Não era um sorriso do tipo bandeira branca.

A criança sorriu para mim o sorriso mais malévolo que já vi uma criança sorrir, e olha que dou aula pra crianças. Sem parar de chorar por um segundo. Inclusive, pareceu chorar com ainda mais intensidade após cruzar o olhar comigo. O pai, desesperado, fazia que jogava a criança pra cima e para os lados e fazia ruídos que a qualquer um pareceriam apenas ruídos aleatórios, mas para quem prestasse atenção soavam estranhamente como se ele rezasse o pai nosso ao contrário. Tive a impressão de ver a cabeça da criança girando em 360 graus, mas a essa altura eu já alucinava de dor e pode ter sido apenas impressão mesmo.

Eu, que não sou cristã, comecei a cogitar pedir ajuda a tudo que é santo e anjo e até mesmo ao diabo pra me livrar daquele destino. O enviado de Cthulhu parecia saber que aquele era o momento mais propício pra levar alguém - no caso, eu - à insanidade apenas com seus berros guturais.

A criança não calou a boca por todo o trajeto da viagem. Ainda estavam no ônibus quando desci.

Ainda estou orando pela alma dos demais passageiros.

4.3.14

Guerra fria

Teus olhos em meus olhos - prenúncio de tragédia. Sob as estrelas, desnudamos nossas almas e demos importância a coisas desimportantes, entre sussurros nossos e estrondos a nosso redor. Te perguntei sobre teus gostos enquanto me perguntava que gosto teria tua língua. Quis saber teus sentimentos enquanto imaginava como seria sentir teus lábios pressionados contra os meus. Perguntei se sabia dançar, desejando, na verdade, que nossos corpos se movessem juntos ao som das batidas do teu coração, da maneira como são percebidas pelo meu ouvido pressionado contra teu peito nu e suado. O vento soprava forte e cheirava a chuva e sal, e tua pele fria e úmida roçava preguiçosamente na minha quando nos abraçávamos. Abri os olhos completamente incensada de você e o sol que vinha da janela me fez desejar trancar as portas dos sonhos para nunca mais te deixar entrar e me bagunçar.