7.7.09

Solidão II

Do lado de cá do mundo, tudo parece bem mais cinzento sem você. O frio não me arrepia, o sol forte não me incomoda, e mesmo o martelar insistente das gotas de chuva no telhado não me provoca qualquer reação.

Minha cama tem espinhos e o ar é feito de concreto, e o tempo fez-se estátua. Nele, só há movimento quando você está por perto, muito mais veloz que deveria.

Aprendi todas as línguas que podia, incluindo a língua do teu corpo, na qual sou fluente. Mas não consegui apreender sequer os rudimentos da língua do teu coração. E, por mais que eu te implore, você não quer que eu aprenda, e é como se eu tivesse esquecido todo o resto.

Das manhas e mimos quando ao teu lado, me tornei um bebê também na minha quase-vida fora de você, e me vejo insegura e desprotegida e chorando aos berros pelos cantos, carentea do amor que sentia nos teus braços e já não mais.

E os grilhões me querem lembrar que sou eternamente culpada por ter assassinado a única coisa de preciosa que me tinha restado, e seus olhos me recriminam por isso como se meramente refletissem os meus, o meu arrependimento, a minha dor.

E você diz que me ama e finge não sentir as lágrimas que turvam sua visão, e vira as costas e me deixa aqui, a ser varrida pelo vento junto com as folhas, os panfletos e a poeira. E viro memória, e desapareço junto com os demais fantasmas da sua vida, a ser apagada pelo tempo.


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Um comentário:

De Beachbarengril disse...

"a ser apagada pelo tempo" não é uma opção. És uma pessoa "inapagável" em qualquer vida, para qualquer alma.

E publique logo um livro!