7.7.09

Solidão I

Sua ausência é uma presença incômoda, insistindo em me fazer lembrar da sua partida.

Você partiu sem se despedir, sem olhar para trás uma vez que fosse, e me deixou aqui. Com sonhos sólidos demais para serem reais e uma realidade frágil demais para ser vivida, uma bagagem tão ínfima que pesa sobre meus ombros. Seu amor era o chão que me sustentava, e o abandono distorceu minhas percepções. Quantas eternidades se passaram desde a última vez em que nossos lãbios se tocaram? Parecem segundos, parecem vidas, parece ter sido em outra encarnação.

Só quem já esteve na beira do abismo e teve a coragem de dar uma boa olhada para baixo conhece a sensação de ver a morte se aproximando, a sensação de impotência perante o inevitável. E eu vi o inevitável, e ainda assim lutei. Em vão. E agora os nós de meus dedos sangram de tanto socar a parede que se ergueu entre nós, meu peito dói de tanto gritar seu nome no silêncio da noite, minha boca está seca de procurar a sua e só encontrar o vento do deserto que se formou no lugar do jardim florido que criamos juntas. As lágrimas se tornaram rios, que formaram cachoeiras, que desaguam em um oceano sobre minhas faces erodidas, e eu não sei nadar, e fico esperando você me lançar um bote salvador, e me afogo em mim mesma.

Você me levou ao inferno de Dante, e eu fico aqui esperando que você também seja meu Virgílio, que me guiará por todos os nove círculos, e através do purgatório, até que eu ascenda e encontre você, também minha Beatrice. Por você abandonei a esperança, esperançosa de te encontrar no final da jornada.

E ainda assim, você não está aqui. E o vazio no meu peito vai devorando o que restou, e não adianta eu dar a você, princesa das minhas histórias, um nome de minha autoria. O nada continuará a consumir tudo até que você renasça em mim. Ou sou eu que devo renascer em você? Talvez nós duas precisemos renascer juntas, e reinventar o mundo ao nosso redor, você me reinventando e eu reinventando você.

Ou talvez só me reste a mais impossível de todas as tarefas, que é aceitar a destruição de tudo que me era mais sagrado. Aceitar sua morte em mim, sem esperar por seu renascimento, e conviver com essa úlcera se alastrando pelo meu organismo. Compreender que o deus se foi e me preparar para o inverno sem fim à minha frente, mesmo que a neve que se espalha me lembre você.

E o vento continua a soprar, impune, pela aridez que sou eu sem você, até que as areias soterrem o que já existiu.


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