8.8.11

Romance político

Conheci numa passeata pelos direitos estudantis, e continuamos nos esbarrando em diversas plenárias pela zona norte afora. Cogitei a possibilidade de ir lá puxar um papo, mas já estava meio-que-comprometida com outro dos meninos do partido, então segurei a onda. Mas anotei seu nome no fundo da memória mesmo assim, para futura referência, e por isso pude cumprimentá-lo com desenvoltura quando me bati com ele no lugar onde eu costumava ir andar de skate e beber.

Ele era até bonitinho, visto assim à luz do meu círculo de amizades mais frequente, mas tinha um terrível defeito - estava aos beijos e abraços com um desafeto meu. Ou desafeta. Enfim. Era uma gracinha, mas já estava tomado e, pior, por alguém que não tinha absolutamente a menor graça. Tudo bem. Não faz diferença, ele é muito hard rock farofa pro meu gosto mesmo, quero mais é saber da galera mais headbanger. Virei as costas e continuei conversando com o cabeludinho que insistia em tentar me ensinar a jogar um card game qualquer que nem me interessava tanto assim.

Alguns dias depois, fui a um bar com minha mãe e ele estava lá. Dessa vez, nem companheiro de partido nem desafeta estavam presentes; claro que eu não ia deixar passar a chance. Nem precisei gastar muito do meu charme e em poucos minutos já estávamos nos atracando contra alguma parede da rua movimentada. O problema é que tudo estava intenso demais, provavelmente devido à alta concentração de vinho em nossos sangues, e logo se tornou necessário que encontrássemos um local um pouco mais reservado. Por sorte, eu conhecia um prédio abandonado logo ali, do ladinho de onde estávamos. E foi aí que erramos.

Mal atingimos um patamar suficientemente escuro, as mãos e as roupas e outras partes de nosso corpos teimavam em se tocar e esfregar e contorcer. Um zíper foi aberto; uma embalagem de plástico metalizado, rasgada. Deslizou para onde queria, e foi aí que, em meio aos sons de respiração entrecortada, ouvimos uma voz gritando, a plenos pulmões, "QUE PUTARIA É ESSA AQUI".

Viramo-nos lentamente e demos de cara com o cano de uma arma apontada para nossas cabeças. Aparentemente, desde a última vez que qualquer um de nós utilizou aquele local para esses fins, ali havia se tornado o point dos traficantes e usuários de qualquer droga que não fosse maconha (porque essa era amplamente consumida abertamente mesmo na rua onde estávamos). O traficante em questão esperou impacientemente que nos vestíssemos, deu na cara do pobre bonitinho com a coronha e perguntou o que tínhamos pra perder. Além de nossas dignidades e vidas, aparentemente. Timidamente, tiramos dos bolsos o que restava de camisinhas, uma carteira de cigarros amassada, um isqueiro e documentos. Não conseguíamos olhar nos olhos nem de nosso captor nem um do outro. Percebemos que ele analisou rápidamente o resumo de nossas minguadas posses antes de nos devolver tudo e mandar a gente sair dali voando. Acho que as calças foram subidas e devidamente abotoadas a meio caminho da porta.

Constrangidos, conferimos juntos nossos pertences na rua e voltamos para o bar. Cada um no seu canto. Nunca mais o vi, nem em plenárias, nem em passeatas, nem em pistas de skate. Eis aí mais uma coisa destruída pelo tráfico: o companheirismo pós-sexo.

Um comentário:

Barbedo disse...

OASHUAHUHUDHUE eu ri muito da parte do traficante atrapalhando tudo.