Ela abriu os braços e se jogou do alto da ponte gigantesca que eram seus medos. Chegando lá embaixo, viu que ainda estava viva e se arrependeu das tantas vezes que morrera de coração aberto por ter medo de sofrer ao enfrentar o que a angustiava.
Olhou os cacos do vidro do espelho no chão sujo e descobriu duas coisas importantíssimas: que o espelho estava embaçado demais por suas lágrimas para que pudesse realmente se enxergar, e que seu sangue era tão vermelho quanto o de qualquer um.
Recolheu as páginas rasgadas dos cadernos e viu que não adiantara nada. Rasgara as folhas, quebrara os espelhos, saltara e se espatifara, mas seu passado ainda estava ali, a espreitar, a lembrá-la de que uma simples lufada de coragem nunca seria suficiente para apagar seus erros. Nada nunca seria suficiente para apagar seus erros, porque eles já foram cometidos e, o que ela estava pensando, coragem não é liquid paper, porra.
Olhou para o céu em busca de um Deus que sempre tentaram convencer-lhe de que existia, mas ele não lhe deu respostas nem soluções. O que não tem remédio, remediado está.
Inspirou fundo, pegou um caco de vidro e se matou.
Enquanto sentia sua vida indo embora, se deu conta de que a lembrança dos seus erros ia se esvaindo pouco a pouco e sorriu, feliz.