15.10.11

Perdas sem danos (ou a arte de perder)

Se desfazer das coisas é umm hábito viciante.

Começa quando, por inocência ou convicção ou simplesmente pressão da sociedade, você decide abandonar a carne. Todo mundo te chama de louco, mas você tenta mesmo assim e vê que nem é tão difícil, nem é tão desafiador. Claro que tem seus percalços, mas não são tão difíceis de contornar. Então você parte para algo mais complicado, e resolve abandonar o refrigerante também. Percebe que, no processo, acabou abandonando uns bons 10kg e metade das roupas do armário, que já não te servem. Mas não é o bastante, nunca é, e ai é que fica perigoso, porque a gente sempre quer mais do que já conseguiu. Mesmo quando o negocio é perder.

Elizabeth Bishop disse que a arte de perder não é tão difícil de dominar. É verdade. Começo a desejar perder a bebida, o cigarro, as noites perdidas - me pergunto se é possível perder algo que se perde leviana e deliberadamente - as drogas, os amigos, o café, as cores, os amores, o sexo, até por fim perder a identidade e não ter mais o que perder. Não sei o quanto mais sou capaz de perder antes de me perder de mim mesma, mas acho que não seria uma perda tao grandiosa assim. Afinal, eu mesma já estou perdida. 

Quem sabe me perdendo pelo caminho eu não seja capaz de me encontrar?

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