15.7.11

Ressaca

Uma batida. Duas batidas. Não sei por quanto tempo prendi a respiração, mas tudo o que eu podia fazer era contar as batidas do meu coração enquanto criava coragem para fazer o que há tanto tempo eu queria fazer. Enfim, respirei fundo e dei dois passos na direção dele. Já nem lembrava mais o que me impedia de beijá-lo; só me lembrava da vontade de fazê-lo, adormecida a tanto tempo dentro de mim. Entabulei uma conversa-disfarce, uma bobagem qualquer sobre música que eu poderia manter sem precisar raciocinar, enquanto dizia para mim mesma que faria aquilo apenas por desencargo de consciência. Nunca deixei de possuir alguém que desejasse, por mais tempo que levasse. E hoje, bonitinho, é a sua vez, pensei.

Não demorou muito para me perder nos beijos, no corpo junto ao meu. Esqueci de onde estávamos. O gosto da vodka em seus lábios não me incomodava; o gosto do cigarro em meus não parecia gerar qualquer desconforto. Suas mãos buscando meu corpo, minhas mãos buscando partes do seu que, sóbria, eu não ousaria tocar tão displicentemente. Suas unhas nas minhas costas. Minhas mãos puxando seus cabelos. Conversamos, é fato, mas pouco, e tudo que minha memória foi capaz de reter foi a data de seu aniversário. A linguagem de nossos corpos bastou, por aquela noite. Enfim sorri, beijei seus lábios uma última vez e entrei no carro. Na manhã seguinte, minha memória enturvada, só me lembrava do fogo que me consumira por instantes que pareceram breves demais para tanta vontade.

A ressaca martelava minha cabeça como se a uma bigorna, as mensagens trocadas prometiam coisas que, tenho certeza, nunca serão cumpridas. Coloquei Queens of the Stone Age pra tocar e olhei triste para o cartão de visitas abandonado sobre a escrivaninha. Uma lembrança ofuscada pelo brilho do álcool, e nada mais.

Um comentário:

Bruna Borges disse...

Saudade de te visitar aki...
;)