14.1.11

A primeira vez

Quando ele sussurrou no meu ouvido, "vamos sair daqui e ir para algum lugar mais privado", eu queria morrer de tanto rir. Era uma coisa tão clichê que eu nem conseguia acreditar nos meus ouvidos, mas pelo menos alguma coisa nessa nossa história tão incomum precisava cair num clichê. E ele me olhava com olhos esperançosos, louco para ouvir uma resposta minha, e tudo o que consegui dizer sem cair na gargalhada foi "nunca fui a um motel, meio que fere meus princípios". Mas se tinha um cara no mundo que conseguiria me convencer a ignorar qualquer princípio referente a sexo que eu pudesse ter, era ele. E não precisou de mais que uns cinco minutos de insistência para que eu mandasse às favas meu pudor e concordasse. Segundos depois, meu melhor amigo voltou pra mesa, e, ao nos ver aos beijos, resmungou "get a room". Agora sim, todo o riso sem graça que eu tinha segurado antes explodiu, com o riso dele fazendo coro. Ficou óbvio que ele acertara na mosca, especialmente porque meu rosto estava da cor dos cabelos. Pagamos a conta, o amigo foi para casa e ficamos nós, dois eternos adolescentes perdidos na Augusta em pleno momento crítico de nostalgia. Entramos no primeiro motel que vimos pela frente, e eu simplesmente não conseguia parar de rir. O homem da recepção entregou uma ficha e pediu para que ele preenchesse. Eu já chorava, os músculos do rosto doendo de tanto rir, enquanto eu o via preencher o papelzinho. "Nome do pai: El Matador", "Nome da mãe: Mamma C.", e eu me perguntando que diabo de motel era aquele que fazia questão de tantas informações na hora de fornecer um quarto. Quando chegou em "profissão", precisei sair de perto. "Super herói ;D", ele preencheu alegremente, e eu querendo morrer. Entregou a ficha, pagou adiantado e subimos, já tirando parte da roupa no caminho até o quarto. Uma vez a portas fechadas, as bocas não se soltavam e as mãos não cessavam de abrir desajeitadamente botões e arrebentar pulseiras e lutar com o fecho do sutiã que era ligeiramente mais complicado do que ele esperava. As calças já se arrastavam pelo chão, presas apenas pelos sapatos que, na pressa, esquecêramos de tirar, quando o telefone tocou. Ele atendeu. "É, sou super herói. É minha profissão, cara. Porra, eu tô dormindo, amanhã eu preencho essa bosta direito. Sou designer, caralho. Tá." Ele puto, e eu gargalhando tanto que quase me esqueci do que me motivara a ir até ali. Ficou no quase. Ele não me deixou esquecer.

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