8.12.10

Metáfora

Todo mundo tem um livro que é o livro da sua vida. Aquele livro que a gente lê em algum momento em que realmente precisa ler, e que vai carregar na nossa bagagem literária/pessoal pra sempre. Pra alguns, pode ser um livro de auto-ajuda. Para outros, muito mais interessantes, pode ser um livro de ficção ou poesia.

Ele entrou numa livraria procurando o livro de fantasia que representava a vida dele. Ele já o havia lido, muitos anos antes, quando ainda era um adolescente. Como com todo livro muito bom que a gente lê quando é adolescente, ele havia chegado àquele momento da vida adulta em que precisava reler pra realmente compreender a mensagem, e constatou que não tinha mais o livro. O perdera em tantas indas e vindas da vida.

Então, ele entrou na livraria e perguntou pelo livro. E descobriu que, para o seu azar, o livro estava esgotado. O vendedor afirmou que não era possível achar o livro em canto nenhum naquela cidade, nem na distribuidora, mas que existia um sebo muito bom em outro estado que talvez, só talvez, possuísse o livro em seu acervo. Caso não tivesse, o sebo poderia se prontificar a encontrar e enviar por um pequeno valor adicional. Mas isso poderia levar meses.

O rapaz deu aquele suspiro profundo e decidiu que talvez valesse a pena tentar. Mas, enquanto isso, pegou um outro livro qualquer na prateleira. A capa era bonitinha, a sinopse era interessante. Lembrou do amigo que o tinha lido e falou muito bem. Era um desses livros fantásticos novos, que às vezes tendem a não ter nem pé nem cabeça, mas, só de não se enquadrar na modinha absurda de histórias românticas com vampiros que parecia ter chegado pra ficar, já parecia ser bom o bastante. Levou o livro até o caixa, pagou e carregou consigo pra casa.

Enquanto terminava de ler o livro, uma história meio corrida e de final deprimente, se perguntou por que cargas d'água não tinha encomendado o livro que realmente precisava ler. Parecia ser tarde demais, e o papel com o contato do sebo tinha ficado em cima do balcão da livraria. Arremessou o livro fraco no cesto de roupa suja, apagou a luz e foi dormir. Amanhã daria um jeito. 

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